sábado, 18 de novembro de 2017

Próximo Passo

          Enfim o tempo nos esclareceu, definitivamente, qual a realidade da audição de nosso filho: Surdez Neurosensorial Bilateral Profunda!!!

          Não havia mais como sonhar numa possibilidade diferente, num diagnóstico mais suave pois a estrada já estava traçada e precisávamos nos movimentar para iniciar a percorrê-la. 

          Sentíamos que seria uma longa, árdua e cansativa caminhada por isso tentávamos não olhar para um futuro muito longe pois não teríamos respostas nem veríamos as curvas nem os acostamentos desta estrada...... Não conseguiríamos ver absolutamente nada! Portanto sabíamos muito bem que precisávamos dar um passo de cada vez e nos firmar para conseguirmos dar o passo seguinte.

          Próximo passo: protetizar nosso amorzinho. 
         
          Uma peregrinação se iniciava. As marcas mais conhecidas da época eram apenas 3 ou 4 que conseguimos saber. Cada uma com seu escritório, suas fonoaudiólogas, seus aparelhos "perfeitos" e seus preços astronômicos! 

          Nesta época a sociedade costumava não "revelar" as deficiências de seus filhos e isto contribuia muito para não haver divulgação nem informações suficientes para que os pais soubessem que atitudes deviam tomar. Tipos de aparelhos, como funcionavam, quais benefícios, o que se devia esperar....... e centenas de outras questões ficavam sem esclarecimentos. 

           Sentíamo-nos jogados à própria sorte e, portanto, resolvemos visitar algumas destas marcas para saber como proceder. Em cada marca que visitávamos as fonoaudiólogas faziam audiometrias e nos indicavam o melhor aparelho para protetizar nosso bebê. Porém...... as divergências em nossa experiência na surdez se mostraram ainda maiores pois continuamos a receber informações diferentes em cada lugar que íamos e uma  certa dose de pressão nos induzindo a comprar o aparelho mais caro, mais moderno e mais potente.

          O que fazer? A quem recorrer em busca de informações corretas? Como avaliar de forma confiável a relação entre a surdez e o aparelho ideal para a surdez dele? Como ter certeza da avaliação daqueles lugares quando o resultado das audiometrias não eram iguais? Como acreditar naquelas pessoas quando só obtivemos experiências negativas com médicos? Só mesmo o instinto, o som do sopro dos nossos corações de pai e mãe é que nos guiaram, nos conduziram, nos mantiveram equilibrados e nos levaram a uma escolha!! Seria aquela a melhor escolha, a melhor atitude, o melhor caminho? Não saberemos jamais. Porém temos a certeza, mais que absoluta, que todo nosso amor, dedicação, carinho, respeito e paciência seriam o mais valioso naquele momento e em toda a vida de nosso filho e, portanto, aquele primeiro aparelho dele tornaria-se o ideal para ele.




quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Nova Etapa

          Chegamos em casa com uma nova perspectiva, uma nova alegria, pois uma nova fase se iniciava.  Que viessem os novos dias com as descobertas de sons e balbucios. Era nossa esperança!
          
          Nosso lindo menino estava sempre sorridente, feliz e muito esperto. Brincava, interagia, aprendia e estava sempre muito bem disposto. E, mesmo sem querer, começamos a fazer nossos pequenos "testes auditivos" com barulhos mais fortes e frequentes pois a ansiedade era muito grande e nós precisávamos começar a obter alguma resposta auditiva dele, alguma reação positiva diante daqueles barulhos.  Mas, para nossa tristeza, não havia reação alguma!!!!!  Em nossa inocência achamos que seria muito lenta a reação e resposta dele aos sons e acreditamos que precisávamos aguardar a expulsão dos tubos de ventilação. Assim, quando os tímpanos eliminassem os tubos e cicatrizassem, aí sim ele começaria a ouvir.

          Poucas semanas depois percebi o pequenino tubinho saindo do ouvido dele. Exultamos de alegria e nos demos mais alguns dias para a cicatrização total do tímpano, o que nos daria a certeza do sucesso da cirurgia e apaziguaria nossos corações de pais.

          Porém..........tudo igual, absolutamente nada havia se modificado.

          Voltamos aos testes em casa, repetindo todos aqueles barulhos experimentados anteriormente, dia após dia, mas sempre com a esperança sendo dilacerada pela dura verdade.

          Resolvemos fazer novos testes de audiometria para compararmos com as anteriores. As do Recife não tinham resposta auditiva (surdez profunda) e aquela do consultório do otorrino em São Paulo tinha uma resposta considerada como surdez com perda leve. E nossa surpresa foi grande com as novas audiometrias realizadas pois elas nos deram os resultados iguaizinhos aos anteriores à cirurgia........ Sem resposta até 90dB.

          Nosso filho era surdo de fato e a cirurgia de nada adiantou. 

          Assim, pudemos dolorosamente constatar que havíamos sido totalmente enganados pelo "papa", excelência no assunto sobre surdez, professor, doutor na USP - Universidade de São Paulo, indicado por 3 grandes otorrinos do Recife mas que era, na realidade, um grande mentiroso. Fria e dolorosamente descobrimos que este ser desumano havia usado nosso pequeno filho e a nós para obter lucro financeiro, apenas isto. Sua frieza, desprezo e desrespeito demonstrados naquele dia da cirurgia estavam agora esclarecidos e elucidados. Não temos outra denominação para ele a não ser chamá-lo de charlatão! 

          A raiva contra este médico, a impotência diante do acontecido, a dor com a realidade e a incredulidade com tudo nos derrubaram mais uma vez. Porém desta vez a realidade nos encontrou mais fortes e resistentes. Precisávamos dar um rumo e preparar nosso filho para um mundo de ouvintes onde a comunicação verbal ainda era a única forma de integração na sociedade do Brasil desta época.

          Partimos em busca de informações sobre fonoaudiólogos e aparelhos auditivos. Naquela época as informações eram mínimas e frágeis, nos causando ainda maior anseio e dúvida em relação aos passos que deveríamos seguir. Visitamos alguns distribuidores de aparelhos que faziam testes auditivos e indicavam aparelhos caríssimos, muito além de nossas posses. Isso só nos angustiava ainda mais, porém não tínhamos outra saída, precisávamos protetizar nosso filho e apresentá-lo ao mundo de sons e faríamos o possível e impossível para dar isto a ele.